Jerusalém: Uma profunda análise da longa disputa entre Israel e Palestina

A dificuldade em se determinar a origem do conflito de longa data entre Israel e Palestina se deve à complexidade histórica deste, que tem suas raízes em disputas culturais, políticas, religiosas e territoriais. O destino de Jerusalém é um grande obstáculo para a paz na região. 

Podemos considerar que o conflito moderno entre Israel e Palestina teve início no final do século 19 com o surgimento do sionismo na Europa Central e Oriental, além de outras partes da Europa, como um movimento que desejava criar um estado judeu na Palestina, para que os judeus pudessem viver de forma segura, autônoma e livre de perseguição. O jornalista e escritor austríaco Theodor Herzl, autor do livro Der Judenstaat (O Estado Judeu), foi uma figura central na criação do sionismo por sua visão e liderança, que ajudou a estabelecer as fundações para a criação do Estado de Israel.

Theodor Herzl, um dos fundadores do movimento sionista, lançou as bases para a eventual criação do Estado de Israel.

A escolha da Palestina como local apropriado se deveu a uma combinação de diversos fatores que contribuíram para a visão sionista de estabelecer um estado judeu na Palestina, e isso continuou a influenciar as narrativas em torno do conflito israelense-palestino ao longo do século XX e XXI. Tais fatores são: 

Conexão histórica e religiosa: 

A terra de Israel (Eretz Yisrael) é importante para os judeus, por ser vista como a terra onde seus antepassados viveram e onde ocorreram muitos eventos bíblicos importantes de sua história e tradição religiosa. 

A cidade de Jerusalém, situada na Palestina, é considerada sagrada pelas 3 principais religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo). 

Retorno à Terra Prometida: 

A ideia de retorno à “Terra Prometida” é antiga, e o sionismo moderno apoiou esse desejo, incentivando os judeus a retornarem para sua terra natal. 

Reivindicação Territorial: 

Antes do estabelecimento do Estado de Israel, vários locais foram considerados para um lar nacional judeu. No entanto, a ligação histórica e religiosa com a Palestina fez dela a escolha preferida entre os sionistas. 

Simbolismo: 

A ideia de voltar para a terra natal era muito forte e motivadora para muitos judeus ao redor do mundo, o que incentivou o apoio ao sionismo e à criação de um estado judeu na Palestina. 

Apoio Internacional: 

Antes dos britânicos assumirem o controle, a Palestina era governada pelo Império Otomano que dominou o território desde o século XVI até a Primeira Guerra Mundial. Durante essa guerra, os britânicos e seus aliados conquistaram algumas partes da Palestina, com o Império Otomano perdendo o controle do território no final da guerra em 1918.  

Jerusalém no final do século 19. Governando a região da Palestina por mais de 400 anos, os otomanos lutaram para manter as terras antigas durante a Primeira Guerra Mundial, mas acabaram perdendo-as para os britânicos.

No contexto do apoio ao movimento sionista, em 1917, o governo britânico expressou seu apoio à criação de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina através da Declaração Balfour. Com o fim da guerra, a Liga das Nações, que era uma espécie de grupo de países, transferiu o controle da Palestina para o Reino Unido a partir de 1920, por meio de um mandato chamado Mandato Britânico para a Palestina

Arthur Balfour e sua declaração de 1917 expressando simpatia por uma pátria judaica.

Esse mandato seguiu a ideia da Declaração Balfour, tornando mais fácil para os judeus se mudarem para a área. Isso deu início a uma grande onda de imigração judaica para a Palestina, que iria aumentar nos anos 1930 e 1940 devido a perseguição nazista. 

A crescente população judaica na região, juntamente com as tensões entre judeus e árabes, preparou o terreno para conflitos futuros. Em 1947, a ONU propôs um plano de partilha que visava criar dois estados independentes, um judeu e um árabe, na Palestina, com Jerusalém sendo colocada sob administração internacional. No entanto, o plano foi rejeitado pelos árabes com base em diversos fatores, incluindo a recusa em aceitar a legitimidade de uma presença judaica significativa na Palestina e a preocupação de que a criação de um estado judeu levasse a deslocamentos e injustiças para a população árabe local.

A rejeição da proposta por parte dos árabes levou David Ben-Gurion a declarar a independência de Israel em 14 de maio de 1948, momento este crucial que moldou não apenas o futuro de Israel, mas também a dinâmica política e social de toda a região do Oriente médio, desencadeando uma série de conflitos na região, começando com a Guerra Árabe-Israelense de 1948, quando cinco países árabes se opuseram à criação do estado de Israel. 

David Ben Gurion faz a leitura da Declaração da Independência em 14 de maio de 1948, no Museu de Tel Aviv.

Ao declarar Independência, Israel deu origem aos seguintes eventos: 

Reconhecimento internacional: Algumas nações reconheceram Israel como país, incluindo os Estados Unidos e a União Soviética, sendo um passo importante para a legitimação do Estado de Israel no cenário global. 

Conflito Árabe-Israelense: A declaração desencadeou a primeira guerra árabe-israelense (também conhecida como Guerra da Independência de Israel), pois os países árabes vizinhos invadiram Israel no dia seguinte à sua declaração de independência. Esse conflito deu início a muitos anos de tensões e brigas na região. 

Migração e estabelecimento de comunidades: Com a criação do Estado de Israel, houve um grande fluxo de judeus de todo o mundo que migraram para Israel em busca de refúgio e uma pátria. Essa migração ajudou a estabelecer uma população judia significativa em Israel, que continuaria a crescer nas décadas seguintes. 

Formação de governo e instituições: A declaração de independência levou à formação de um governo e instituições nacionais em Israel. David Ben-Gurion tornou-se o primeiro Primeiro Ministro, e várias instituições governamentais e militares foram estabelecidas para administrar o novo estado e proteger suas fronteiras. 

Políticas e desenvolvimento nacional: A independência permitiu que Israel implementasse políticas de desenvolvimento nacional, focadas em construir a economia, infraestrutura, e instituições educacionais e culturais. 

Determinação de fronteiras: As fronteiras de Israel foram formadas após a Guerra da Independência e mudaram com negociações e outros conflitos. 

Impacto nas comunidades palestinas: A criação de Israel também teve um impacto significativo nas comunidades palestinas. Muitos palestinos foram deslocados de suas casas durante e após a guerra, um evento conhecido como “al-Nakba” ou “A Catástrofe” na narrativa palestina.  

Jerusalém, uma cidade sagrada para três grandes religiões monoteístas, se tornou o centro de muitos conflitos, quando Israel declarou a parte oeste da cidade como sua capital em 1949. Esses conflitos foram intensificados por várias guerras subsequentes, como a Guerra dos Seis Dias em 1967 e a Guerra do Yom Kippur em 1973, entre Israel e vários países árabes. Essas guerras consolidaram o poder militar de Israel na região, mas também fomentaram ressentimentos e tensões crescentes. A ocupação contínua de territórios palestinos por Israel, como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, tornou-se uma fonte constante de insatisfação e confronto. 

Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel capturou Jerusalém Oriental, juntamente com outros territórios. A anexação de Jerusalém Oriental por Israel não foi reconhecida pela comunidade internacional, que considera a cidade como parte do território palestino ocupado por Israel, pelos seguintes fatores: 

  • A ONU considera Jerusalém Oriental como território ocupado. 
  • A anexação é vista como uma violação do Direito Internacional. 
  • A ONU declarou a lei israelense de 1980, que anexou Jerusalém Oriental, como ilegal. 
  • A ONU diz que quem deve decidir o futuro de Jerusalém são as próprias partes envolvidas. 
  • A soberania territorial sobre Jerusalém Oriental é objeto de controvérsia internacional. 

É por esse motivo que muitos países e organizações internacionais veem essa área como território ocupado, com a maioria dos países mantendo suas embaixadas em Tel Aviv, e não em Jerusalém, para evitar dar a impressão de que estão tomando partido em favor de Israel ou da Palestina. 

Ao manter suas embaixadas em Tel Aviv, esses países estão aderindo a uma postura mais neutra conforme o consenso internacional, que busca evitar a tomada de um lado no conflito sobre quem deve controlar Jerusalém, pois esta disputa tem raízes profundas, com a discussão ganhando maior atenção internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a ideia de criar um estado judeu foi levada à ONU. 

Tel Aviv é frequentemente descrita como uma “Cidade de Contrastes”, devido à sua mistura de tradição e modernidade, bem como a diversidade de sua população.

 
Na tentativa de trazer paz à região, nos anos 90, foram iniciados os Acordos de Oslo, que propunham a criação de um governo palestino temporário e um plano de paz. Apesar do começo promissor, os acordos não conseguiram atingir seu objetivo, levando ao ressurgimento da violência com a Segunda Intifada em 2000, marcada por ataques violentos de ambos os lados. 

Assinatura do histórico Acordos de Oslo, em Washington, em 13 de setembro de 1993. O então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, o líder palestino Yasser Arafat e o presidente estadunidense Bill Clinton assinaram no pátio da Casa Branca acordos pela paz no Oriente Médio.

Grupos extremistas e militantes, como o Hamas, têm desempenhado um papel fundamental no prolongamento do conflito, com a região experimentando ciclos de violência e tentativas falhas de mediação de paz. A escalada de violência observada em 2021 e 2023 é um lembrete sombrio da complexidade e da persistência do “conflito israelense-palestino”. 

Contudo, como pudemos observar, o conflito entre Israel e Palestina é mais complexo do que nos é apresentado por boa parte da mídia de comunicação. Sem o contexto histórico, é difícil entender a situação, tornando impossível compreender a realidade para dessa forma emitir opiniões bem fundamentadas. 

Para que isso ocorra, é importante conhecer a história, as culturas e a política da região. A constante violência mostra a importância de buscar uma solução justa e duradoura para trazer paz a uma região marcada por décadas de conflitos.

Fontes pesquisadas para a produção desta matéria:

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