Dossiê Jim Ryan: Entre lucros e decisões controversas

Jim Ryan, com uma trajetória extensa na Sony, tem sido uma figura central na evolução da empresa. Ingressando na Sony Europe em 1994, teve papel crucial no lançamento do PlayStation original na Europa. Sua ascensão à presidência da Sony Computer Entertainment Europe em 2011 e, posteriormente, a presidente e CEO da Sony Interactive Entertainment (SIE) em 2019, demonstra sua influência significativa na consolidação da marca PlayStation na Europa e globalmente. 

Sob sua gestão, a Sony Interactive Entertainment lançou o PlayStation 5, impulsionando uma receita recorde de US$ 26 bilhões no ano fiscal de 2022, com 38,4 milhões de vendas totais acumuladas do PS5 até março de 2023, fazendo a alegria da empresa e seus acionistas. Apesar de seu papel inegável nesse sucesso, é vital reconhecer a força da marca PlayStation, construída ao longo de várias gerações e solidificada como uma das mais respeitadas na indústria de jogos. 

No entanto, mesmo com essas conquistas, as decisões de Jim Ryan, incluindo questões de retrocompatibilidade e preços de jogos, não estão isentas de críticas e controvérsias, ressaltando a complexidade de sua liderança na era atual do PlayStation. 

Em 2017, quando ainda ocupava o cargo de chefe de vendas e marketing global da Sony, Jim Ryan já se mostrava uma figura polêmica e avessa à Microsoft, quando em entrevista à Time, criticou a retrocompatibilidade, apesar da Sony disponibilizar diversos títulos do PS2 e PS3 para Playstation 4, sendo que na mesma entrevista, fez questão de explicitar a diferença em vendas do PS4 comparado ao Xbox One. 

O lançamento do Playstation 5 em 19 de novembro de 2020, marcaria o início de uma liderança controversa para uma parcela dos usuários da plataforma. Com Spider-Man: Miles Morales, um dos primeiros jogos lançados para PlayStation 5, Jim Ryan sinalizava como seria sua gestão, ao cobrar R$ 249 em um jogo que é mais uma expansão do que um título completamente novo. 

 
A justificativa para o aumento de preço segundo declarações em outubro de 2020, era devido à qualidade dos ‘melhores exclusivos do mercado’ com a promessa de oferecer uma verdadeira experiência de próxima geração. 

No mês seguinte, em entrevista exclusiva para o jornal britânico The Telegraph, Jim Ryan lançou mão de mais um argumento para defender o aumento no valor dos jogos vendidos para Playstation 5 de $60 para $70 dólares, afirmando que o tempo de diversão proporcionado por um jogo eletrônico é significantemente maior do que qualquer outro tipo de entretenimento que existe atualmente. 

Horizon Forbidden West, seria o próximo título a demonstrar o apetite financeiro de Ryan. Com a pré-venda da edição padrão no valor de R$ 299,90. Com a transição da oitava para a nona geração de consoles, o CEO da Sony enxergou mais uma oportunidade em gerar lucro, ao cobrar uma taxa adicional, onde o usuário de PlayStation 4 que adquirisse um PlayStation 5 e desejasse que o jogo tivesse as melhorias da nova geração, teria de pagar em torno de R$ 50 (US$ 10) pelo upgrade. 

Essa decisão irritou muitos jogadores especialmente porque, em setembro de 2020, a Sony havia prometido oferecer uma atualização gratuita da versão Playstation 4 para o Playstation 5. No entanto, em 2021, a Sony muda as regras do jogo. Agora, os jogadores que desejassem ter acesso aos recursos de nova geração no jogo teriam de desembolsar R$ 399,50 pela Edição de Luxo Digital. Com as críticas ganhando força na internet, a empresa voltou atrás, mas alertou que nos próximos lançamentos a nova taxa faria parte do pacote. 

A comunidade PlayStation passou a se dividir entre defensores e críticos quando a Sony começou a lançar remake de jogos recentes e “edições especiais” (director’s cut), cobrando valores equivalentes a novos lançamentos. Como os custos de produção de tais títulos já haviam sido recuperados em sua respectiva geração, essa atitude foi vista por muitos como uma forma de obter lucro fácil. Muitos passaram a relembrar os demais sobre as declarações de Jim Ryan em 2017, criticando a retrocompatibilidade, chamada por ele de ‘jogos antigos’. 

Em 29 de março de 2021, mais uma decisão polêmica, quando a Sony anunciou oficialmente o fechamento da PlayStation Store para o PlayStation 3, PSP e PS Vita, impossibilitando a compra digital nestas plataformas. A justificativa era a dificuldade em prover suporte comercial para essas plataformas antigas. Contudo, após reações negativas dos usuários, a Sony voltou atrás em sua decisão, mantendo as operações das lojas nas antigas plataformas. Jim Ryan, presidente da Sony Interactive Entertainment, alegou que a empresa refletiu sobre o assunto e reconheceu que havia tomado uma decisão equivocada. 

A combinação das decisões tomadas até essa data, alimentou a percepção de que as ações de Jim Ryan na liderança da Sony estavam focadas mais em maximizar os lucros do que em atender às necessidades e desejos dos consumidores da marca PlayStation. Mesmo que algumas dessas decisões possam ter justificadas e válidas do ponto de vista empresarial, elas contribuíram para uma imagem pública desafiadora para Jim Ryan e a Sony no mercado de jogos atual. 

Mais recentemente o aumento no preço da assinatura da PlayStation Plus a partir de 6 de setembro, foi mais um motivo de descontentamento com o gerenciamento da marca, chegando a 40% aqui no Brasil. 

Em janeiro de 2022, o anúncio da Microsoft em pagar US$ 68,7 bilhões pela Activision, daria início a uma das novelas mais entediantes do setor de jogos, com Jim Ryan fazendo de tudo para impedir a conclusão do negócio, contando com o apoio dos órgãos reguladores FTC e CMA, que claramente se mostraram parciais. 

A atitude do presidente e CEO da Sony passa a ser criticada por muitos sendo algumas razões a falta de transparência, pois ele sabia que Call of Duty continuaria no PlayStation mesmo após a Microsoft comprar a Activision Blizzard, mas decidiu mudar o tom em público criticando a Microsoft tentando impedir a compra, por acreditar que isso prejudicaria o PlayStation. 

Interferir nos negócios de outra empresa também foi uma atitude bastante criticada, por ser vista como uma tentativa de controlar os movimentos de negócios da rival. O possível prejuízo aos jogadores, caso a tentativa de Ryan em bloquear a aquisição tivesse sido bem-sucedida, poderia resultar em menos opções e possivelmente em experiências de jogos inferiores para os jogadores. 

No geral, o mandato de Jim Ryan como presidente da SIE tem sido marcado por várias decisões controversas. Enquanto alguns acreditam que essas decisões foram contra os consumidores, outros defendem que elas são necessárias para garantir o sucesso de longo prazo do PlayStation. 

No dia de ontem, foi anunciado que Jim Ryan deixará o cargo em março de 2024, alegando “dificuldade de balancear a vida entre seu lar no Reino Unido e o trabalho nos Estados Unidos”. Ele agradeceu à comunidade e afirmou que ama a companhia. Pelo visto, as ‘viagens’ entre CMA e FTC foram bem cansativas.  

Enfim, quando as coisas pareciam estar melhorando da perspectiva do consumidor, somos surpreendidos com a notícia de que Hiroki Totoki, atual presidente, COO e CFO da Sony Group Corporation, assumirá o cargo de presidente da Sony Interactive Entertainment a partir de outubro de 2023, e será nomeado CEO interino da SIE a partir de 1º de abril de 2024. 

Hiroki Totoki, o responsável por definir o próximo capítulo do futuro do PlayStation, tem gerado receio em uma parcela dos admiradores da marca devido a uma declaração em uma conferência a investidores em fevereiro de 2022, revelando que 10 jogos do gênero GaaS estão em desenvolvimento e até 2026 farão parte do catálogo da companhia com a intenção de levar a experiência para consoles e expandir também para o público de PC e dispositivos móveis. 

 É, caros leitores e leitoras que curtem jogos, só nos resta torcer pelo melhor. 

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