A série Assassin’s Creed, conhecida por suas narrativas que misturam ficção e história, está novamente no centro de uma controvérsia com o lançamento de Assassin’s Creed Shadows. O jogo, que apresenta o protagonista negro Yasuke, ambientado no Japão feudal, provocou reações variadas de críticos e fãs.
Satoshi Hamada, um político do Partido NHK, decidiu agir após receber múltiplas reclamações de cidadãos japoneses preocupados com imprecisões históricas e a percepção de apropriação cultural no jogo Assassin’s Creed Shadows. As queixas giravam em torno da representação de Yasuke, um samurai negro, e possíveis distorções culturais e históricas. O Partido NHK, ao qual Hamada pertence, é politicamente insignificante no Japão, tendo perdido seu status oficial de partido político em janeiro deste ano. Hamada utilizou essas reclamações como base para solicitar uma resposta formal do governo, provavelmente para ganhar visibilidade e relevância política.
No Japão, o debate sobre o jogo Assassin’s Creed Shadows chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que declarou que a precisão histórica em um jogo de ficção não era de sua responsabilidade. O Ministério da Educação, por sua vez, emitiu uma resposta padrão afirmando que os jogos não devem violar a ordem pública e a moral. No entanto, este ministério não deu nenhuma indicação de que planejava iniciar uma investigação oficial sobre o assunto, sugerindo que, embora reconheçam as preocupações levantadas, não consideram necessário tomar medidas adicionais.
Além disso, o canal Nippon Journal decidiu investigar as alegações de imprecisões históricas no jogo devido às crescentes controvérsias em torno da representação de Yasuke. Motivado pelas reclamações públicas sobre a veracidade das fontes históricas, o canal focou no livro “African Samurai” de Thomas Lockley. Durante a investigação, foi descoberto que Lockley havia editado páginas da Wikipedia para promover seu livro, resultando em sua demissão da Universidade Nihon. Esta revelação lançou dúvidas sobre a credibilidade da obra literária, que era uma das principais referências para a história de Yasuke no jogo.
Jeffrey J. Hall, professor da Kanda University of International Studies, também se pronunciou. Ele usou seu perfil na rede social X para comentar sobre as mensagens trocadas por Satoshi Hamada, enfatizando que o Partido NHK é politicamente insignificante. Embora alguns vejam as mensagens trocadas como algo importante, especialistas dizem que perguntas como as de Hamada são geralmente apenas para chamar atenção e não têm um propósito real.
Hall mencionou que a resposta do Ministério da Educação sobre não violar a ordem pública e a moral geralmente se aplica a jogos com violência excessiva ou nudez, como foi o caso de jogos como “The Callisto Protocol”, que foi cancelado no Japão por não atender às exigências da CERO, a agência de classificação de jogos local. Outros exemplos de jogos que sofreram censura no Japão incluem “Grand Theft Auto”, “Dead Island” e “Call of Duty”, todos ajustados para atender aos padrões rigorosos de conteúdo do país.
A relevância dos comentários de Hall se deve ao fato de ele ser uma voz respeitada no campo dos estudos internacionais, oferecendo análises críticas e informadas sobre questões contemporâneas no Japão, especialmente nas mídias sociais. Isso o torna uma fonte importante de opinião sobre questões políticas e culturais no Japão.
O historiador japonês Yu Hirayama contribuiu para o debate afirmando que Yasuke, de fato, foi um samurai que serviu a Oda Nobunaga, citando documentos históricos que comprovam seu status. Ainda assim, a Ubisoft enfatiza que “Assassin’s Creed Shadows” é uma obra de ficção histórica, destinada a entreter e despertar a curiosidade dos jogadores sobre o período retratado.
Após os comentários de Jeffrey J. Hall, surgiram mais desenvolvimentos na controvérsia em torno de Assassin’s Creed Shadows. A Ubisoft emitiu uma declaração oficial reconhecendo as preocupações levantadas, especialmente no que diz respeito à precisão histórica e à sensibilidade cultural. A empresa enfatizou que Assassin’s Creed Shadows é uma obra de ficção histórica e não uma representação factual dos eventos históricos.
Além disso, a Ubisoft pediu desculpas por qualquer ofensa causada e afirmou que estava trabalhando para ajustar os materiais promocionais e outros aspectos do jogo para melhor refletir o contexto cultural e histórico do Japão feudal. A empresa também expressou seu compromisso contínuo em colaborar com historiadores e consultores culturais para garantir que suas representações sejam respeitosas e bem pesquisadas.
Essa resposta da Ubisoft foi vista como um passo importante para mitigar a controvérsia e demonstrar um compromisso com a inclusão e a precisão cultural, ao mesmo tempo em que defendia a liberdade criativa inerente às obras de ficção.
Fontes: gamesradar – gamedev – inverse – ubisoft