Esta matéria foi sugerida por um de nossos leitores, Robson Iecker.
Dentre as diversas ferramentas de busca online existentes no mercado, o Google ocupa o primeiro lugar na preferência dos usuários. Até mesmo Satya Nadella, CEO da Microsoft, reconhece esta realidade.
A empresa que sempre foi vista como inovadora e amigável, conquistando em 2010 a classificação de empresa com a melhor reputação do mundo em uma pesquisa do Reputation Institute, passou a sofrer um desgaste em sua imagem a partir de 2018, quando removeu silenciosamente seu famoso lema não oficial “Don’t Be Evil” (“Não seja mau”) de seu código de conduta. A mudança ocorreu justamente quando pesquisadores de inteligência artificial pediam que a empresa abandonasse um projeto de desenvolvimento de tecnologia de armas autônomas com uso de IA para militares.
Em 2020, mais precisamente em 20 de outubro, um processo antitruste contra o Google foi iniciado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e por 11 outros estados dos EUA, sob a acusação de adotar práticas ilegais para manter o monopólio dos mecanismos de busca no país. A gigante das buscas foi descoberta pagando outras empresas como fabricantes de celulares, operadoras e navegadores, e incluindo a Apple, para manter seu mecanismo de busca como o padrão.
Além disso, o Google teria mantido esse monopólio através de acordos ilegais, impedindo parceiros comerciais de fazer acordos semelhantes com seus concorrentes. Como se não bastasse, os acordos seriam “interligados”, o que significa que o Google e as empresas trabalhavam juntos para reforçar sua posição dominante. Por exemplo, tornar o mecanismo de busca do Google padrão em diversos dispositivos e plataformas diferentes dificulta a entrada de concorrentes no mercado.
O Departamento de Justiça alegou que o Google responde por quase 90% das pesquisas online nos EUA e exerce condutas anticompetitivas para garantir o controle do mercado. Essas ações foram consideradas prejudiciais à concorrência e aos consumidores, reduzindo a qualidade no setor e forçando os anunciantes a pagarem mais do que o necessário.
Isso nos leva ao dia 22 de setembro de 2023, com o julgamento em si tendo início. A principal acusação é de que o Google mantém um domínio quase total sobre o mercado de buscas, fazendo uso de práticas desonestas para manter esse controle. O advogado do departamento de justiça apresentou seus argumentos, mostrando como o Google fez acordos de exclusividade que dificultam a expansão de outros motores de busca, como o Bing da Microsoft.
Por sua vez, a defesa do Google insiste em dizer que sua liderança é consequência de um serviço melhor e mais inovador do que de seus concorrentes, e não devido a práticas anticompetitivas. Buscando embasar seu argumento, mostrou como o Bing e outros motores de busca também evoluíram, mas mesmo assim o Google permanece como preferido por ser mais eficaz em mostrar resultados rápidos e relevantes.
Por outro lado, os advogados que representam o Departamento de Justiça dos Estados Unidos mostraram papéis e e-mails da própria empresa, indicando que o Google sabia que estava muito à frente dos outros e fez o que pôde para manter essa vantagem, tornando as coisas difíceis para suas rivais no setor de busca.
A acusação alegava que o Google não estava agindo de forma justa, enquanto outras empresas, como a Microsoft, enfrentavam dificuldades para competir com ele. O julgamento que tem potencial para moldar o futuro das buscas online na internet, em grande parte vem acontecendo a portas fechadas. Isso vem ocorrendo, uma vez que o juiz Amit P. Mehta autorizou que diversos detalhes do processo fossem mantidos em sigilo, acatando solicitações de empresas como Google, Microsoft e Apple, que demonstraram preocupações com a concorrência.
Tamanho nível de confidencialidade tem gerado insatisfação entre consumidores, grupos de defesa e especialistas jurídicos, levando a um aumento das críticas sobre o sigilo do caso, obrigando o tribunal a se tornar mais aberto.
Para amenizar essa situação, em 28 de setembro de 2023 foi estabelecido um processo para que o Departamento de Justiça divulgue evidências apresentadas em tribunal.
Resumo do julgamento até o momento:
Ocultação de provas por parte do Google:
No dia 12 de setembro, foram apresentadas provas de que o Google teria ocultado e destruído documentos relevantes, com mensagens internas indicando a solicitação para que certas conversas fossem excluídas automaticamente.
Armações do Google:
Alega-se que o Google mantém contratos lucrativos com empresas como a Apple, desembolsando bilhões anualmente para garantir sua posição predominante no mercado.
Manipulação de preços de anúncios pelo Google:
Em 18 de setembro, o Google reconheceu a prática de ajustar os preços dos anúncios para atender às metas de receita, muitas vezes sem informar os anunciantes sobre tais mudanças.
Transparência das evidências:
Após queixas do Google, o juiz Mehta determinou que os documentos relacionados ao caso possam ser publicados online diariamente, proporcionando um maior acesso público às informações do julgamento.
Desenvolvimento de IA pelo Google:
O Departamento de Justiça expressou preocupações sobre como o Google poderia utilizar seus avanços em aprendizado de máquina e IA para obter vantagens injustas no mercado.
Parceria entre Apple e Google:
Eddy Cue, da Apple, prestou depoimento sobre o acordo entre as duas empresas, afirmando que sempre viu a parceria como benéfica para ambas as partes.
Tentativas de acordo da Microsoft:
Foram reveladas tentativas da Microsoft de estabelecer parcerias com a Apple e Samsung, evidenciando as dinâmicas competitivas entre as gigantes tecnológicas.
Perspectiva do CEO da Microsoft:
Satya Nadella, CEO da Microsoft, compartilhou suas preocupações sobre a dominância do Google tanto no mercado de busca quanto no emergente campo de Inteligência Artificial.
Fonte: indiatoday – theverge – thedrum