Desde o início desta geração de consoles, a gestão de Jim Ryan na Sony indicava uma estratégia voltada para maximizar lucros. Um exemplo foi a política de upgrade para “Marvel’s Spider-Man” no PS5. Os jogadores que tinham o jogo para PS4 se surpreenderam ao saber que, para acessar a versão remasterizada no PS5, era necessário adquirir a ‘Edição Ultimate de Miles Morales’ ou pagar uma taxa adicional na edição padrão de ‘Miles Morales’.
Embora “Miles Morales” seja um jogo independente e não uma expansão, a Sony vinculou a versão remasterizada do jogo original a esse novo título, forçando os jogadores a adquirirem ambos. Isso gerou insatisfação, especialmente porque muitos esperavam melhorias gráficas e aumento na taxa de quadros gratuitamente.
A situação foi a seguinte:
Com “Marvel’s Spider-Man” para PlayStation 4 tendo custado US$ 59,99 (R$ 249,50 no Brasil), quem adquiriu esta versão e desejasse ter acesso a versão remasterizada para PlayStation 5, teria de pagar US$ 69,99 pelo pacote “Spider-Man: Miles Morales Ultimate Edition” (R$ 349,90 no Brasil), pois “Marvel’s Spider-Man” remasterizado não podia ser adquirido separadamente nesta época.
Então, quem possuísse ‘Marvel’s Spider-Man’ para PS4 e desejasse jogar a versão de PS5 com melhoria gráfica e aumento na taxa de quadro teria um custo total de aproximadamente US$ 129,98 (R$ 599,40). Outra opção seria comprar a versão base de ‘Miles Morales’ para PS5. Uma opção ‘mais barata’ seria comprar a edição padrão de ‘Miles Morales’ para PS4 ou PS5 por cerca de US$ 49,99, e depois realizar a atualização gratuita para a versão PS5, caso necessário, pagando uma taxa adicional de US$ 20 para acessar a versão remasterizada de ‘Marvel’s Spider-Man’, totalizando os mesmos US$ 70.”
Como podemos ver, qualquer opção era financeiramente prejudicial a quem já possuía ‘Marvel’s Spider-Man’. Apesar disso, alguns canais de notícias justificavam o valor do pacote argumentando que ‘Miles Morales’ era um novo jogo, embora haja discussões sobre se ele se assemelha mais a uma expansão, dada a sua menor duração. Para contextualizar, a campanha principal de ‘Miles Morales’ pode ser concluída em aproximadamente metade do tempo necessário para concluir o jogo original ‘Marvel’s Spider-Man’.
Ficou evidente a estratégia da Sony de maximizar lucros com o lançamento de ‘Horizon Forbidden West’. Jim Ryan, CEO da Sony, havia prometido inicialmente upgrades gratuitos para jogos cross-gen, facilitando a transição dos usuários da plataforma PS4 para o PS5. No entanto, a empresa enfrentou reações negativas ao mudar sua conduta, quando tentou cobrar pela atualização de ‘Horizon Forbidden West’.
Tal acontecimento levou Jim Ryan a declarar em entrevistas que apesar da atualização de HFW permanecer gratuita, futuras atualizações cross-gen, incluindo jogos como ‘God of War’ e ‘Gran Turismo 7’, seriam cobradas. Apesar do aviso, a cobrança por upgrades entre gerações em ‘God of War: Ragnarok’ atraiu críticas inclusive de alguns editores que apontaram a ausência dessa prática em outras empresas.
Alguns exemplos que demonstram ser possível as desenvolvedoras fornecerem conteúdo gratuito:
- Dying Light e Dying Light 2, da desenvolvedora Techland, receberam atualizações gratuitas incluindo novas missões, com os donos de uma cópia de Dying Light 2 para PS4 e Xbox One, sendo comunicados que receberiam uma atualização para a nova geração sem nenhum custo adicional.
- The Witcher 3, da desenvolvedora CD Projekt RED também foi outro grande título que recebeu atualização cross-gen gratuita e conteúdo extra.
- A Capcom liberou gratuitamente a DLC (Os Mercenários) para Resident Evil 4 Remake.
- Para quem adquiriu uma cópia de Alan Wake 2, a Remedy Entertainment promete duas dlcs gratuitas que serão lançadas em 2024.
Como estamos vendo, a cobrança de taxas cross-gen e por conteúdo extra faz parte da estratégia da Sony, refletindo uma escolha estratégica da empresa. Quem optou por comprar a versão remaster de ‘The Last of Us’, por exemplo, que trazia consigo a expansão “Left Behind” por R$ 349,90, fizeram sua escolha com base nas informações disponíveis, mesmo diante das críticas sobre o valor e se a remasterização foi realmente necessária.
Da mesma forma, é importante respeitar as opiniões dos que criticam a política de cobrança da Sony. Afinal, a partir do momento em que uma gigante do mercado de jogos passa a cobrar por atualizações que deveriam ser gratuitas para quem havia adquirido o jogo na geração anterior, levanta a questão de se outras empresas seguirão essa tendência ou continuarão oferecendo conteúdo gratuitamente. Isso se torna ainda mais relevante ao constatar que muitos fãs da plataforma apoiam essa estratégia, apesar de suas possíveis desvantagens para eles próprios.
Tivemos um exemplo prático de como esse efeito cascata ocorre, quando Jim Ryan fixou o preço dos títulos produzidos pelos estúdios da Sony em US$ 70 (R$ 350), usando como argumento manter a qualidade. Gradativamente, as demais desenvolvedoras passaram a aumentar o valor de seus jogos quando perceberam que, além de comprar, muitos consumidores também começaram a defender o aumento de preços.
É importante reconhecer que, embora a Sony não tenha sido a primeira a adotar a prática de jogos a US$ 70, sua posição de destaque no mercado de jogos possivelmente influenciou outras empresas a seguirem o mesmo caminho.
Interessante notar que o CEO da Take-Two Interactive, a empresa responsável por lançar ‘NBA2K21’ como o primeiro jogo a US$ 70, declarou recentemente que os jogos deveriam ser cobrados com base no tempo jogado. Será um enorme problema se uma parcela de jogadores, particularmente fãs da Rockstar (subsidiária da Take-Two), começar a defender essa abordagem de cobrança baseada no tempo de jogo, assim como uma parcela dos fãs da marca Playstation continuam a defender os aumentos da empresa.
Aliás, é difícil compreender quando alguns consumidores defendem jogos a R$ 350, enquanto criticam serviços de assinatura como o Game Pass, que é excelente para o consumidor, ao mesmo tempo que garante os lucros para desenvolvedores e a empresa detentora do serviço.
Recentemente, houve o anúncio de mais uma remasterização, desta vez de ‘The Last of Us 2’. A novela se repete com parte dos jogadores questionando a necessidade de remasterizar um título de 2020 em tão pouco tempo, trazendo conteúdo que muitos consideram não tão relevante, ao mesmo tempo que outra parcela de jogadores, juntamente com alguns canais de notícias, tenta justificar o lançamento.
Quando uma desenvolvedora opta por remasterizar um jogo, seus objetivos geralmente vão além de simplesmente ‘trazer de volta um clássico’. Essa decisão envolve um conjunto de metas cuidadosamente planejadas para melhorar a experiência dos jogadores e revitalizar grandes títulos.
A melhoria visual e técnica é a primeira e mais visível dessas metas. Ao recriar um jogo com resoluções mais altas, texturas mais ricas e taxas de quadros mais suaves, o objetivo é transformar a jogabilidade em uma experiência mais prazerosa e imersiva. Isso não só traz uma nova vida ao jogo, mas também o torna atraente para aqueles que podem não ter tido a oportunidade de jogá-lo em sua forma original.
Em seguida, temos a acessibilidade em plataformas modernas. As remasterizações permitem que jogos antigos sejam jogados nos consoles e sistemas operacionais mais recentes, quebrando as barreiras da obsolescência tecnológica. Isso significa que jogos que marcaram uma época podem ser descobertos e apreciados por novas gerações de jogadores, garantindo que clássicos não sejam esquecidos no tempo.
Outro ponto importante é a correção de bugs e melhoria na jogabilidade. As remasterizações frequentemente vêm com correções para erros que talvez tenham afetado a versão original e refinamentos na mecânica do jogo, tornando a experiência mais fluida e agradável. Essas melhorias não apenas corrigem falhas do passado, mas também adicionam um valor extra que pode até mesmo surpreender os fãs de longa data.
Por fim, a revitalização de franquias é um objetivo estratégico das remasterizações. Ao trazer de volta jogos antigos, desenvolvedoras e editoras têm a chance de reacender o interesse em uma série ou universo de jogos. Isso não só homenageia a história do título, mas também abre caminho para futuros jogos da franquia.
Por outro lado, o lançamento de remasterizações em um curto espaço de tempo pode prejudicar o setor de jogos de várias maneiras. Esse fenômeno, quando mal gerenciado, pode criar uma série de repercussões negativas tanto para os desenvolvedores quanto para os jogadores.
Um dos principais problemas é a saturação do mercado. Quando muitas remasterizações são lançadas rapidamente, corre-se o risco de sobrecarregar os jogadores com opções demais em pouco tempo. Isso pode levar a uma perda de interesse, pois cada lançamento não parece mais tão especial ou único. Além disso, essa saturação pode fazer com que jogos originais e inovadores percam destaque, já que grande parte da atenção e dos recursos de marketing são direcionados para as remasterizações.
Outro ponto de preocupação é a qualidade das remasterizações. Se elas são produzidas e lançadas rapidamente, pode haver um comprometimento na qualidade. Isso significa que, em vez de oferecer uma experiência aprimorada, essas remasterizações podem acabar sendo apenas versões ligeiramente modificadas dos jogos originais, sem melhorias significativas em gráficos ou jogabilidade. Isso pode decepcionar os fãs e diminuir a confiança na marca ou na franquia.
Além disso, a falta de inovação é um problema. Se as empresas se concentram demais em remasterizar jogos antigos, podem acabar negligenciando o desenvolvimento de novos títulos. Isso pode estagnar a criatividade e a inovação dentro do setor, pois novas ideias e conceitos ficam em segundo plano em favor de recriar experiências já conhecidas.
Por fim, há o risco de desgaste do consumidor. Os jogadores podem se sentir desencorajados com a constante enxurrada de remasterizações, especialmente se elas não oferecerem algo verdadeiramente novo ou emocionante. Isso pode levar a uma sensação de fadiga e desinteresse, afetando a disposição dos jogadores em investir em novos títulos, seja uma remasterização ou um lançamento original.
Enfim, o problema não está no lançamento de remasterizações ou na parcela de consumidores que decide adquiri-las. O real problema passa a existir quando uma parcela dos consumidores defende que tais lançamentos estão corretos mediante a cobrança de taxas por quem já possui o jogo, em alguns casos com valores equivalentes a títulos de lançamento. Esse tipo de atitude muitas das vezes praticado em nome de fanatismo por marca prejudicará a todos a médio e longo prazo.