Todos sabemos a quão agressiva é a Nintendo, quando se trata de proteger suas marcas e propriedades intelectuais. Recentemente, os criadores do popular emulador Yuzu para o Nintendo Switch se viram em uma situação complicada. Na segunda-feira (1), a empresa japonesa entrou com um processo de 41 páginas contra a Tropic Haze, empresa desenvolvedora do emulador, na Corte do Distrito de Rhode Islan, nos Estados Unidos, na Corte do Distrito de Rhode Island.
Stephen Totilo, da Game File, identificou o processo e o compartilhou em sua conta na rede social X. De acordo com esse processo, a Nintendo alega que o Yuzu contorna as medidas de segurança do console, resultando em cópias não autorizadas de jogos em PCs e dispositivos Android, facilitando a pirataria.
A empresa alegou danos financeiros com base na Digital Millennium Copyright Act (DMCA). Seu argumento é que o jogo Tears of the Kingdom foi baixado mais de 1 milhão de vezes uma semana antes do lançamento, afirmando que o lucro da Tropic Haze dobrou durante esse período (entre 1º e 15 de maio de 2023), com a desenvolvedora ganhando aproximadamente US $ 50.000 em downloads pagos do Yuzu via Patreon, o que, segundo a Nintendo, é uma prova de que o modelo de negócios do Yuzu ajuda no aumento da pirataria.
Os apoiadores do Yuzu na plataforma de financiamento coletivo Patreon obtinham diversas vantagens:
- Acesso Antecipado: Permitia aos usuários experimentar novos recursos, melhorias de desempenho e correções de bugs antes do lançamento oficial ao público em geral.
- Canais de Comunicação Exclusivos: Os contribuintes tinham acesso a canais de comunicação exclusivos, como servidores privados no Discord, onde podiam fazer perguntas aos desenvolvedores, dar feedback e discutir sobre o emulador com outros apoiadores.
- Prioridade no Suporte: Em alguns casos, os apoiadores tinham prioridade no suporte, e suas dúvidas ou problemas podiam ser resolvidos mais rapidamente pela equipe de desenvolvimento.
- Reconhecimento: Dependendo do nível de contribuição, como forma de agradecimento pelo suporte financeiro, os apoiadores podiam ser mencionados nos créditos do projeto, na página oficial do Yuzu ou em comunicações relacionadas.
- Votar em Recursos Futuros: Algumas campanhas permitiam que os apoiadores votassem em quais recursos ou melhorias deveriam ser priorizados.
O objetivo da Nintendo foi alcançado ontem (4), afetando não apenas o Yuzu, mas também o Citra, emulador do Nintendo 3DS desenvolvido pela mesma equipe. Os respectivos links de download oficiais foram excluídos e o site retirado do ar.
Um acordo foi fechado com os criadores do Yuzu, no qual a Tropic Haze se comprometeu a pagar uma multa de US$ 2,4 milhões (R$ 11,9 milhões) para a gigante japonesa. Além disso, o desenvolvimento dos emuladores foi completamente encerrado. Esse acordo também inclui a proibição dos desenvolvedores de trabalhar em novas soluções que violem proteções da Nintendo ou de outras empresas. Eles também foram obrigados a ceder os domínios de sites, permitindo que a Nintendo os retire do ar e desative os links para download, bem como os códigos-fonte e as informações de funcionamento.
A Tropic Haze se pronunciou em suas redes sociais afirmando que nunca teve a intenção de fomentar a pirataria e está desapontada que seus usuários utilizaram a plataforma de emulação com esta finalidade.
A finalidade dessas exigências é prevenir que esses emuladores permitam acesso não autorizado aos jogos da Nintendo. Possuir essas informações permitirá à empresa entender como seus sistemas foram emulados, possibilitando a implementação de medidas para reforçar a segurança de seus consoles contra novas tentativas de emulação.
Caso a história se repita, não me surpreenderia se a Nintendo utilizasse o conhecimento adquirido através desse código-fonte no “Switch 2”, visando a retrocompatibilidade com seu console atual. Afinal, quem nunca ouviu falar do iNES?
Caso iNES: Uso e Controvérsia
Marat Fayzullin desenvolveu o iNES no início dos anos 90, um pioneiro emulador do Nintendo Entertainment System (NES), que nunca enfrentou ações legais da Nintendo, apesar da rigorosa postura da empresa contra a pirataria.
Quando a Nintendo lançou o Virtual Console no Wii em 2006, especialistas em tecnologia e emulação notaram semelhanças entre os cabeçalhos de arquivo das ROMs do serviço e o formato do iNES, levantando suspeitas de que a empresa poderia estar utilizando uma tecnologia similar para emular jogos clássicos.
Embora essa observação tenha gerado debates sobre a ironia da Nintendo possivelmente se beneficiar de técnicas de emulação semelhantes às que critica, não existe confirmação oficial ou evidência concreta dessa prática.
Os envolvidos nessa discussão não pertenciam necessariamente a um único grupo organizado, mas faziam parte de uma comunidade diversificada composta por desenvolvedores de emuladores, acadêmicos em estudos de mídia e tecnologia, jornalistas especializados em videogames e entusiastas da preservação digital. As opiniões desses indivíduos carregam credibilidade devido à sua vasta experiência e conhecimento técnico, sendo fundamentais para avançar o debate sobre emulação e a preservação da herança cultural dos videogames.
Fonte: beebom – gamesindustry – gamespot